Educandário Novos Rumos
Aluno(a)
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Data:
_____/____/_____ Série:
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Professora: Nadja Docio I Unidade
A moça tecelã
"Acordava
ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da
noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha
clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando
entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o
horizonte.
Depois
lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca
acabava.
Se
era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na
lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na
penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos
rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas
se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os
pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol
voltasse a acalmar a natureza.
Assim,
jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear
para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer
era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o
tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom
ter um marido ao lado.
Não
esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca
conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam
companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto
barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de
entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem
precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma,
e foi entrando em sua vida.
Aquela
noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para
aumentar ainda mais a sua felicidade.
E
feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os
esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a
não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas
pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa,
se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente
ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias
e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e
escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para
chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o
dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes
acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal
o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e
seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que
sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros.
E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o
marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer
barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha
nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o
outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as
estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas
as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu
para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a
cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se
levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus
pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo
corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça
escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios,
delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte."
(Texto e perfil extraídos do livro "Doze Reis e a Moça no Labirinto
do Vento", São Paulo:Global, 1999. p. 12-16)
Semântica
e análise
1.
Pesquise no dicionário e dê o significado das palavras destacadas nas
frases.
a) “...como se ouvisse o sol
chegando atrás das beiradas da noite.”
b) “...a claridade da manhã desenhava
o horizonte.”
c) “...a moça colocava na lançadeira
grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo.”
d) “O homem tinha descoberto o
poder do tear.”
e) “Desteceu os
cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.”
2.
Observe que no texto “A moça tecelã” a personagem vivia muito feliz com sua
vida simples e sua delicadeza.
a)
Em que
momento do dia a moça sentava-se ao tear? Responda com elementos do texto.
b)
Por que a
moça tecelã escolhia a linha clara para começar o dia?
3. A
partir do momento que o tempo passava a moça escolhia cores diferentes para
tear. Por quê?
4. Com o
passar do tempo a moça começou a se sentir só. Que atitude ela tomou para que
não se sentisse mais assim?
5. Por
que o moço ao entrar na “casa” da moça não precisou nem que ela abrisse a
porta?
6. Em sua
opinião, era aquilo mesmo o que a moça tecelã procurava para sua vida? Como ela
se sentiu ao perceber a realidade?
7. O
marido tornou-a escrava de todos os desejos que ele possuía, sem se importar
com os sentimentos da moça.
a) Que
atitude a moça tomou diante da situação?
b) Como
ela se sentiu depois da atitude tomada por ela?'
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